sexta-feira, 25 de março de 2011

RÉQUIEN

Esse é um texto que eu tinha criado há bastante tempo depois do atentado as torres gêmeas. Depois coloquei melodia a ele e o transformei em música. Posto ela agora compartilhando com vocês!!!

RÉQUIEN
Quando os puros pingos de chuva começaram a cair
A tristeza tomou meu coração;
Pois sabia que a hora da verdade havia chegado.
Porque nossos corações temem o desconhecido?

As lápides dos mortos já estão prontas
O velo começou nesta manhã
E ele se estende pelo horizonte enorme.
Agora é hora de pararmos de acusar
Mesmo que os motivos deles não justifiquem
Nossas perdas são muito maiores do que qualquer álibi.

Nessa terra onde o gado trabalha,
As cores do céu perdeu seu brilho.
Onde estás tu oh lua perfeita?
E porque se escondes ante a presença dos homens?

A água que jorrava da velha fonte secou,
Pelos seus desejos pervertidos...
Em seus rituais negros de morte.
Vamos gado acordem para a realidade!

Faces mentirosas anunciam as mortes
Com seus sorrisos estampados no rosto;
Verdades corrompidas, anelar aos fatos.
Seus desejos se concretizam na escuridão
Onde o mundo não pode ver.

Falam de amor e de paz
Mas do que isso na verdade adianta?
Se quando disserem paz e prosperidade,
Virá completa destruição...

Acorde oh gado e siga o rastro da lua!
Acorde oh mundo e viva tudo aquilo que ainda podem viver!
Oh! Vento que trazes bons frutos,
Sopre nesta hora seus ares sobre o mundo,
E mude o curso da vida antes do fim!

terça-feira, 22 de março de 2011

Concurso Cultural "Os Herdeiros dos Titãs"

Visitando alguns blogs encontrei com um concurso e achei interessante:

Os blogs de divulgação A Fábula Inacabada (Alec Silva) e Os Herdeiros dos Titãs (Eric Musashi), em parceria com os blogs A Fantasista (Celly Monteiro) e Alec Silva & Outros Escritores, apresentam o Concurso Cultural Os Herdeiros dos Titãs.

Para participar e para maiores informações entre em um dos blogs ou acesse:
http://afantasista.blogspot.com/2010/09/mes-de-desafio-literario.html

sábado, 19 de março de 2011

Esse é um texto que foi escrito há oito anos para um concurso literário da escola onde eu estudava. O concurso se chamava: Viagem Nestlé pela literatura.
Eu o escrevi junto com minha "irmã" Regiane Bozzo Rancon. E aqui eu o compartilho com vocês.


É cansativo viver em um mundo crítico onde tudo é questionado e nada é resolvido. É como tecer e entristecer, tal qual a moça tecelã.
Tudo o que somos hoje é o resultado da nossa formação, das escolas que estudamos, dos livros que lemos, da ajuda que ofertamos e da crença que praticamos. Macabéa, Macabéa! Porque você não acha que é muito gente?
Porque nunca ninguém te ensinou que ser gente não é hábito?
Toda essa “coisa” junta, nos torna o que somos hoje. E o que somos hoje? Será que somos Severinos iguais a tudo na vida, iguais a tudo na sina?
Nós humanos, gostamos de mudar as coisas. Simplificamos algumas, complicamos na maioria das vezes outras. Isso muitas vezes é a nossa maior fraqueza. Pode ser uma história natural ou apenas o poema da cobra: O inconformado conformista.
Damos desculpas “inconscientes” para não sermos melhores do que somos.
Não temos tempo!
Não temos dinheiro!
Nossa vida é uma sequência de circuitos fechados.
Já se perguntou qual a importância da sua vida? Não se deixe chegar ao ponto de ter uma mosca como companhia.
Dizem que o inferno é aqui. Para muitos é mesmo. A falta de comida, a infelicidade, o frio e o lar em que meninos de ruas se vêem privados. Ai você se pergunta: Qual a conexão disso tudo comigo?
Em tudo nos fazemos solitários, e esquecemos o que somos e a que viemos.
Somos famintos.
Temos fome de alimentos!
Temos fome de amor!
Temos fome de união!
Temos fome de solidariedade!
Nosso alimento se faz de nossas próprias forças, e assim adquirimos resistência para continuarmos vivos, buscando quem nos seja solidário e se doe a vida.
Mas já não temos tempo nem palavras que façam melhor do que nós mesmos alguma diferença, e enquanto não chegamos à perfeição, buscamos “o papel que pode aceitar qualquer mundo”.

sexta-feira, 18 de março de 2011

REINO DAS PALAVRAS VAZIAS

A alma da vida levada pelo vento da manhã,
Caminha sem rumo a seguir.
Caminha pela estrada das folhas mortas.

O céu se escondeu da presença dos homens mortais,
Homens fadados ao descanso eterno;
E os animais do mar fugiram
Para as profundezas do oceano.
Agora no horizonte as trevas conquistam seu lugar,
Trazendo aquele velho torpor consigo;
Deixando seus corações tristes s e cansados.

A marcha dos pensamentos vazios começou,
Tomando seu lugar no coração da nova geração
E trazendo esquecimento aos eruditos.
Ao qual o sol se orgulhava
E o céu ajoelhava diante deles,
E também as cores do crepúsculo
Misturavam-se num enlace ascendente.

O tempo das horas vazias chegou
E assim abriu caminho a linguagem muda;
Onde os ponteiros do grande relógio não giram mais
Nem aquele grande pêndulo faz soar
Seu tilintar incessante, ou assim deveria ser.

A estrada das folhas mortas se fechou!
E as raízes das árvores tornaram-se rabugentas;
Como um zambujeiro bravo.

As palavras não possuem mais poder.
A magia das histórias acabou.
Onde havia abundante luz agora existem
Apenas pequenos lampejos de focos de algo
Que é desconhecido e incompreendido.

E que em minúsculos átimos de segundo,
Iluminam a mente de alguns privilegiados
Com a sabedoria que se
Reflete por um espelho embaçado.
Neste mundo louco
Neste mundo pobre,
Neste mundo sem palavras,
Onde existem apenas frases mudas.
Gestos inacabados sem fim.

Neste mundo louco! Mundo louco!

sexta-feira, 11 de março de 2011

OTHERKINS

Dedico esse texto aos meus amigos otherkins e a todos ao qual eu não conheço!
Foi uma experiência interessante escrevê-lo... e assim... poder sentir um pouco como é este tipo de existência! Peter, mesmo que você não se considere um de nós... sua existência é um dos arcabouços da vida de muitas pessoas. E perdurará essa amizade pra sempre.



O que fazer quando você percebe
Que o mundo não foi feito pra você?
Então você olha ao redor
E não encontra familiaridade em nada
Tudo que é real mais parece um sonho distorcido.

Paredes rabiscadas, ruas sem direção,
O mundo gira num frenesi sem rumo
Sem linearidade, sem passividade;
E não há um lugar nele para você.

Festas de aniversários, passeios familiares;
Tudo isso te soa tão distante. Não é?
Como se fosse um plano paralelo.
E você vaga a espera de algo desconhecido...
Mas que sente que virá.

O olhar da luz da lua cheia,
É como um acalento a alma;
Que se deleita sobre uma lápide
Entre os mortos cujo suas cruzes
Já passaram e agora ostentam onipotentes
Por todos os lados daquele gentio cemitério.

Paredes rabiscadas, ruas sem direção,
O mundo gira num frenesi sem rumo
Sem linearidade, sem passividade;
E não há um lugar nele para você.

Calabouço

O desejo corroeu sua mente
E assim como no Éden
Você provou do fruto proibido.
Mas realmente a tua existência mudou?

Ouvimos palavras e comandos...
Você não precisa seguir os padrões esdrúxulos
Dessa sociedade pervertida.
Quem esculpiu esses padrões cegos de vida?
Onde seu sangue faz parte do cálice divino.

Você viveu tanto tempo sem enxergar...
Que agora até a luz da lua ofusca sua visão;
Revelando-lhe uma realidade distorcida.

Venha! Vamos fugir deste lugar.
Encontraremos um mundo ideal.
Mesmo que seja apenas em nossos sonhos.
Lá as almas cantarão para nós.

Tente pelo menos...
Se você se esforçar verás que a vida
Pode ser uma linda verdade
Não apenas mentiras e enganação!

Você viveu tanto tempo sem enxergar...
Que agora até a luz da lua ofusca sua visão;
Revelando-lhe uma realidade distorcida.

terça-feira, 8 de março de 2011

CONTOS DE OUTRORA

Como poderia eu contar uma história de um momento em que não vivi?
Mas minha missão foi designada e minha vontade não é relevante.
O que sei, é apenas o que todos sabem. Ou assim eu imaginei que seria...
Pra minha infelicidade é claro!
O que lhes revelarei aqui são fatos verídicos, ao qual colocam minha cabeça a prêmio. Porém, não acho justo deixar todos, e quando falo todos é tanto o ocaso quanto poente, que na verdade hoje não existem mais, ficarem na ignorância e alienação.
Acredito que devo esclarecer algumas coisas antes. Fatos históricos de homens e mulheres que deram suas vidas a algo maior que tudo.
Estamos agora na primeira Era do mundo. Pois depois dos fatos aqui apresentados, a contagem se reiniciou. E aquele mundo ao qual você certamente ouviu falar, onde ainda existiam muitos reinos, Reis, élfos e fadas e ainda fadas caídas e bruxas. Não existe mais.
Digamos numa forma sucinta, que houve drásticas mudanças tanto na politica, cultura e geografia de Nova Ether. E isso se deu desde que eles chegaram.
Vamos agora voltar no tempo e espaço, onde ainda vivia uma garotinha chamada Ariane Narim, mais conhecida por todos como Chapeuzinho Vermelho. Acredito que vocês se lembrem como ela conseguia atingir projeções e planos eterianos ao qual uma porcentagem exorbitante das pessoas que existiram, que existem ou que virá a existir, nunca conseguiriam atingir.
Pois bem...
Essa garota foi a responsável por toda a desgraça e destruição ao qual Nova Ether foi submetida. Subvertida em fogo e água, deixando até mesmo um Criador em desespero.
Nessa Era, quase todos daqueles heróis de que todos sempre ouviram falar nas histórias dos bardos, ainda estavam vivos. Os irmãos João e Maria, O Rei e rainha Anísio e Branca-de-Neve Brandford. E repare que nesta Era atual rainha voltou a se escrever com erre minúsculo. Hobbin Wood e Peter Pan,
Em fim, esses heróis e muitos outros, haviam sido provados pelas fadas, e assim o destino do mundo seguia seu curso de acordo com a vontade do criador. Até aquilo acontecer.
Ariane Narim, já havia se acostumado a sair de sua casca sempre que quisesse. Mas o que nunca lhe foi revelado, e quando descobriu já era tarde demais, era que, sempre que deixava sua casca, essa atingia uma energia muito elevada de éter, e assim, poderia ser usada como uma espécie de portal entre os mundos de éter de outros criadores.
Quando Ariane Narim descobriu já era tarde demais.
Ela não poderia voltar a sua casca, pois essa já estava ocupada por ele.
Seu nome era Darkseide, um dos mais terríveis seres que já existiu em qualquer plano eteriano conhecido ou não. Ele sentia as emoções humanas e conseguia distorcê-las, fazendo o coração das pessoas, se este não fosse puro, cair em densas trevas.
Assim ele envenenou a mente de muitos, tomando seguidores aqui e acolá, por todos os reinos e línguas.
E foi naquele dia ínfimo e maculado, e que todos o reconhecem por: Armagedom. Que o mundo caiu definitivamente.
Usando a tecnologia criada em Labuta e unindo com as magias negra e branca, conhecidas no ocaso. Esse ser criou um portal de éter, que abriu uma ruptura entre os mundos de éter, permitindo que qualquer um, de qualquer mundo entrasse no plano de Nova Ether.
Mas que ninguém saísse.

Nesse dia, bardos podiam jurar que caiu sangue do céu, como se o próprio planeta chorasse pela desgraça e infortúnio que estava destinado. Nesse dia a guerra do Armagedom deu-se inicio.
Seres fantásticos começaram a invadir Nova Ether por todos os lados, ali eles formavam grupos e combatiam um ao outro como se fossem rivais antigos. E talvez fossem mesmo.
Os mais conhecidos foram:
Uma legião de nome: Justiceiros, um homem careca de nome Lex Luthor. Milhares de seres horrendos e pegajosos chamados de orcs, liderados por um senhor do escuro de nome Melkor.
Se as “visitas” tivessem parado por ai, até que poderia haver uma hipótese mínima, de que, o mundo não estaria condenado. Mas muito mais vieram. Todos com poderes fantásticos e caráter distorcido.
Quando tudo já estava perdido, os élfos do Nunca invocaram forças maiores que os próprio Devas, chamados de Ainur. Estes tinham o poder de moldar a geografia do mundo através de temas de suas canções.
Eles lutaram bravamente contra os intrusos, quando numa última marcha através das terras mortas, o avatar de Bruja invocou através de magia negra, deuses antigos Hades, Poseidom, Abel, e alguns menores chamados de Titãs.
Até as fadas lutaram juntos dos heróis de Nova Ether, numa guerra terrível.

Depois destes acontecimentos pouco encontrei que se encaixasse na linha cronológica dos fatos. E até mesmo os bardos não entendem perfeitamente porque aquilo aconteceu, ou de onde veio aquele poder imenso.
Mas foi no final da quarta Era, que de Pearl Harbor, um dos portos de Labuta. Foi disparada uma nova tecnologia criada em segredo por Rumpelstichen, através do conhecimento dos gênios. Deram-lhe o nome de Míssil nuclear.
A destruição foi tamanha. Muito do que existia já havia sido destruído. Muitos heróis e vilões já estavam mortos. E até mesmo as fadas, ao qual eram imortais, na teoria humana, foram destruídas pelos grandes deuses do passado. Mas quase nada sobreviveu ao poder destrutivo daqueles milhares de mísseis nucleares, alterados com magia vermelha e branca.
E você deve estar se perguntando como eu estou aqui contando esta história para você, se o mundo inteiro foi destruído por poderes tais ao qual nunca mais voltarão a existir. Não está?
A questão é que, uma enorme arca fora construída em segredo, e nela fora colocado um casal de cada espécie de animal, e também uma espécie de cada planta. Ali apenas humanos tiveram a oportunidade de embarcar. Nem os próprios gnomos engenheiros quiseram essa nova oportunidade de sobrevivência. Essa segunda chance de vida.
Naquele dia, a enorme embarcação se elevou aos céus, e, após a tecnologia ter sido lançada no planeta, destruindo tudo e a todos, uma ultima magia foi lançada inundando o mundo de água. Uma quantidade exorbitante e nunca imaginável. O nível de água quase chegou a atingir as nuvens, e demorou quarenta dias e quarenta noites para o mesmo abaixar por completo.
Depois disso, as plantas foram inseridas novamente a terra, os animais foram soltos e uma nova Era deu-se inicio. Uma oportunidade única do Criador aos homens para que eles pudessem recomeçar.
E um acordo foi feito naquele dia entre Noé e o próprio Criador. Que nunca mais o mundo seria destruído em água ou fogo. E do novo pacto um enorme arco-íris se formou no céu. O primeiro de muitos arco-íris que aquela terra veria.
Naquele dia, nunca mais se veria, magia. Nunca mais se veria gigantes. Nunca mais se veria fadas nem élfos. O éter foi esquecido, e o mundo se tornou completamente humano.
E os humanos que sobreviveram, omitiram por algum motivo aqueles acontecimentos das eras futuras, e apenas falavam que um enorme meteoro caiu sobre o mundo, destruindo enormes animais chamados de dinossauros.
O planeta mudou...
E um novo nome foi dado a ele.
Eles o chamaram simplesmente de Terra.

sábado, 5 de março de 2011

Existência de Éter

O mundo havia mudado para Gaspar.
Sentado na torre da catedral da Sagrada Criação, ele podia sentir o sol que descia por sobre o horizonte bater em seu rosto e o zéfiro vindo do norte afagar-lhe os cabelos. Mas tudo isso de uma forma bem peculiar.
Ainda tentava compreender as mudanças pela qual estava passando, desde que o ocorrido acontecera. Aquilo o assustava, porém como toda criança, não havia preocupação demasiada em seu coração. Apenas a falta de alguém que lhe ajudasse a entender a vida e compreender seus caminhos.
Não entendia porque sua família não ligava mais para ele, nem o porquê de seus amigos fingirem que não o conheciam. Tão logo cansou de sua busca e resolveu subir naquela torre e ali apenas existir.
De todas as coisas estranhas daquele dia, a que mais o incomodava era um novo e vasto sentido do todo. Ele simplesmente podia sentir tudo que existia. Tanto o concreto, quanto o abstrato. Sentia a borboleta voar ao seu lado, e sentia o ar e todo tipo de energia que nele seguia. Ele sentia o Éter. E também sentiu quando de repente uma mulher de vermelho segurou sua mão, após ter caído do telhado de sua casa perto dos portos de Andreane, a principal cidade de Arzallun. A causa? Uma enorme bala de canhão que destruiu todo seu frontispício. E a partir daquele momento um mundo novo se abriu para ele.
A mulher de vermelho nada falava. Apenas chorava, e ainda por um único olho. Conduziu-o até certo tempo pela estrada que levava para o centro da cidade e ali ela simplesmente desapareceu.
Após o ocorrido, ele perambulava pela cidade observando toda a agitação das pessoas, sem entender o que estava acontecendo. Três dias depois quando o ocaso cintilava as cores mais belas no céu, a mulher de vermelho novamente o encontrou e estendeu-lhe a mão. Levou-o até a catedral e em seu interior Gaspar contemplou muitos corpos estendidos por todo o átrio. Quase levou um choque quando percebeu que seu corpo também estava ali, jogado ao chão. Imóvel. Sem respirar. O garoto correu até ele tentando entender como aquilo era possível e foi apenas quando viu sua família chorando junto à grei de plebeus ali presente que pode perceber e entender por inteiro o que realmente aconteceu.
Ele havia morrido!

Depois desse dia, cada vez mais e mais, a solidão e a falta de alguém se apossavam de Gaspar. Porque uma criança ainda não tem completa consciência do que é a morte, e para Gaspar ela chegara prematura e efêmera.
Semanas se passaram e transformaram em meses. Meses de um eterno retiro de solidão onde ele pôde se encontrar, e através de outras entidades, soube que, se ele ainda não havia feito a passagem para o reino de Mantaquim, era porque ainda tinha um papel a cumprir neste plano. Um papel traçado pelo próprio Criador.
Ele então passou sua existência, a observar as coisas ao seu redor e tentar identificar sinais do que o Criador queria dele. Gaspar viu um Rei morrer. E outro se erguer. Observou de longe uma menina ser iniciada em um coven. E demônios serem invocados por um conde magrelo e asqueroso. Um dia, porém, ele observou uma movimentação diferente do normal na cidade e seguiu a multidão que parecia ansiosa por alguma coisa.
Nunca tinha visto tantas pessoas em um só lugar como aquela arena parecia suportar. Para ele era irrelevante, agora que conseguia passar pelo concreto, já que se tornara “abstrato”. Sentou-se em uma das arestas de um ringue e contemplou uma Arzallun fervorosa. A multidão gritava extasiada, ansiando um espetáculo que decidiria a nação mais forte de todo continente do Ocaso.
E foi quando ele viu o lutador entrar por uma rampa lateral que tudo mudou para ele.
Gaspar era uma criança sim, mas como todo e qualquer cidadão de Andreane e até mesmo de toda Arzallun, ele aprendera a idolatrar irracionalmente o príncipe mais querido pelos plebeus: Axel Brandford.
Naquele instante a multidão foi ao delírio total, deixando o êxtase transcender os limites conhecidos e abalar os arcabouços daquele lugar. Gaspar esquecendo momentaneamente de seu “estado-fantasma”, correu em direção ao príncipe tentando chamar-lhe a atenção.
O príncipe começou a lutar e Gaspar segurou seu short, um short com as cores de Arzallun, querendo que ele o visse. Queria que ao menos ele o enxergasse. E Gaspar desejou tanto isso, canalizou tanto sua vontade, não percebendo que, ao deixar o verbo dar lugar ao ato, estava tirando energia etérea do príncipe. Estava deixando-o fraco. E então...
BAM... BAM... BAM!!!
O príncipe caiu no chão depois de uma sequência jabs seguido de um uppercut.
Gaspar ainda não se dera conta de que o príncipe não podia vê-lo e insistia em chamar sua atenção. Foi apenas depois que Axel levou uma segunda sequência que quase o fizera perder o torneio, que Gaspar o soltou. Não porque desistiu do príncipe e sim por tentar identificar de onde vinha uma voz em sua mente.
Oi garotinho.
Mesmo em meio aquela gritaria toda, ele a ouvia nitidamente.
Você quer brincar?
Era a primeira vez que ele ouvia uma voz humana direcionada para ele depois de tudo o que aconteceu em sua... existência.
Vem! Estou aqui.
Ele procurou, procurou, até que encontrou uma menina logo à frente chamando-o, então ele caminhou até ela.
A garota estava extasiada, e Gaspar mais ainda. Embora ela demonstrasse e ele não.
Quando ele se aproximou, percebeu que a garota estava acompanhada de duas mulheres, que não pareciam enxergá-lo.
-Como é seu nome? - Perguntou a menina.
Gaspar ia responder, ele queria responder. Já estava mergulhado em um mundo de solidão há muito tempo. E a sua frente se apresentava pela primeira vez uma solução para seu torpor. Mas, nada saia de sua voz.
Por mais que tentasse, e ele realmente tentou, parecia que suas cordas vocais havia se atrofiado. Se é que fantasmas possuíam cordas vocais.
-Você quer brincar comigo? - A garota perguntou novamente, percebendo o impasse.
Gaspar lhe estendeu a mão e os dois saíram do meio daquela multidão de Arzallinos eufóricos e em êxtase, rumando para a entrada de um bosque há algumas centenas de metros da arena.
Pararam aos pés de um grande pinheiro, Gaspar pegou alguns gravetos e começou a desenhar no chão. Ele estava feliz. E estava assim por saber que aquela garota era parte do sinal de sua missão traçada pelo Criador. Ele não sabia explicar aquilo, apenas acreditava. Isso era fé. E quando ela vem de uma criança, está na forma mais pura e sincera que possa existir. Não importando se a criança é humana ou um fantasma.
-Você gostou dessa árvore né mudinho? - Gaspar balançou a cabeça sorrindo e a menina nem percebeu o verdadeiro motivo daquele sorriso.
-Tá. Você pode morar nela por enquanto. Ela pode ser sua...
Gaspar balançou a cabeça negativamente. Ele podia sentir que aquela árvore era uma árvore marcada. Uma marca de um amor. Ele apontou para a menina, sabia que ela fazia parte daquilo. Ele apontou para a árvore e para ela
-Não entendi, pô!
Gaspar se levantou para mostrar a marca para a menina.
-Ih, ó: Não fica nervosinho não tá? Eu hein! Já tenho de ficar falando sozinha aqui, bancando a maluca! E ainda vou levar esporro de alguém que, além de não falar, nem tá aqui? Fala sério né?
Ele segurou-a pelo braço, percebendo-a enriçar por seu toque gélido. Contornaram a árvore e ali ela estava. Circundados por um envoltório de coração, dois nomes: Ariane e João.
E Ariane chorou.
Gaspar não sabia se eram lágrimas de felicidade ou de tristezas, mas o sentimento que conseguia compartilhar fluindo de Ariane era uma mistura de amor, complacência, escusa, entre outros, que talvez ele nem conhecera seus nomes e seus efeitos no corpo. Mas, entendia de alguma forma, o coração da menina.
Ariane partiu e a noite desceu por sobre o horizonte enorme de Andreane.
E ali Gaspar habitou.
Em um pinheiro que simbolizava o amor em algumas culturas, a longevidade em outras. Mas para Gaspar, iria significar uma segunda chance.
Tudo estava ligado. Simplesmente ao bel prazer e vontade do Criador. E aquela noite seria uma noite especial para Gaspar, porque aquela noite era uma noite de lua vermelha.
Uma noite sem ventos... Uma noite de éter.

Exatamente à meia noite Gaspar estava sentado na ponta do ultimo galho do dossel daquela árvore, quando viu aparecer em sua frente algumas entidades.
Uma era a fada Liaras. A mais bela de todas as fadas.
O segundo era um gnomo. Simbolizando a terra.
O terceiro e o quarto eram representantes do próprio Criador. Eram semideuses.
E foi neste instante que ele nos viu.
-Olá Gaspar! - Disse a fada num onírico inexistente no mundo natural. –Sua provação neste plano se sucedeu. Chegou a hora de seu verdadeiro destino.
Ele voltou a contemplar todos ao seu redor. Olhou para mim, e, olhou para você.
E o contemplamos. E eu tenho certeza que vi seus cabelos se enriçando. Como se o éter lhe roçasse o torso. E você também viu?
-Seu destino está ligado a esse mundo, e Banshee não tem mais poder sobre você. - Disse Liaras se aproximando de você, olhando em seus olhos e voltando a atenção o menino.
-Eu não estou preparado para entrar em Mantaquim? Disse Gaspar.
-Pelo contrário meu querido. –Liaras disse sorrindo. –É este mundo que não está preparado para existir sem você e tudo o que você representará a ele. Você voltará a viver no mundo físico até cumprir o ultimo plano do Criador traçado a você.
-Eu nascerei de novo?
-Sim, mas sua existência será um pouco diferente das pessoas normais.
-E no que eu serei diferente?
Liaras o olhou feliz e disse:
-Digamos que você será especial. E as pessoas o chamarão de Pinóquio!
Ela se elevou mais alto e disse:
-Até nosso próximo encontro.
Dizendo isso todos se retiraram e na árvore foi cravado um nome: Gepeto!